domingo, 4 de outubro de 2009

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A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar
que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.

De outra matéria se tornam,
absoluta,numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer
quando nos cansamos,
e todos nos cansamos,
por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.

Já não pretendemos
que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa
à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno
fica esse gozo acrena
boca ou na mente,
sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

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